Combate ao Racismo 18/02/2015

Sinttel Bahia na luta de combate ao racismo

No Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, data que marca o aniversário de morte do maior líder negro do Brasil, Zumbi dos Palmares, os departamentos de Combate ao Racismo e de Saúde ocupacional do Sinttel Bahia publicam um jornal que aborda as doenças que mais atingem a população afrodescendente, com destaque para a anemia falciforme.

 “Sendo Salvador a cidade com a maior população negra fora do continente africano nada mais natural do que trazermos para a nossa categoria uma publicação com informações sobre as doenças que mais acometem os afrodescendentes”, afirma Joselito Ferreira, presidente do Sinttel Bahia.

“É importante a comunidade negra saber que mesmo com os avanços conquistados nos últimos anos ainda temos muito que avançar. No passado a nossa alimentação precária desencadeou uma série de males que nos afetam fisicamente até hoje. É fundamental conhecermos as doenças e buscarmos sempre que possível a prevenção”, explica Gildomar Santana,  secretário de Combate ao Racismo do Sinttel Bahia. 

 

O QUE É ANEMIA FALCIFORME?

A anemia é a diminuição da hemoglobina no sangue. Na maioria das vezes, essa diminuição ocorre por falta de ferro no sangue, razão pela qual os órgãos não recebem a quantidade suficiente de oxigênio e não podem desempenhar bem suas funções.

A hemoglobina A e o ferro têm uma função muito importante. Se uma pessoa não tem uma alimentação adequada ou tem verminose ou perda de sangue por doença, ela pode ter anemia por falta de ferro. Mas existe um outro tipo de anemia, com nome de anemia falciforme. É uma anemia que acontece porque algumas pessoas não têm a hemoglobina A e, no seu lugar, produzem outra hemoglobina diferente daquela, chamada hemoglobina S.

A hemoglobina S não exerce a função de oxigenar o corpo de forma satisfatória, razão pela qual tais pessoas têm sempre uma anemia que não se corrige nem com alimentação nem com ferro. Nessas pessoas, as hemácias, em vez de redondas, tomam a forma de meia lua ou foice. Essas células afoiçadas têm muita dificuldade de passar pelas veias, que levam o sangue para os órgãos, ocasionando seu entupimento e muitas dores, principalmente nos ossos. 

POR QUE ESSA DOENÇA É TÃO COMUM ENTRE OS AFRODESCENDENTES? 

Há muitos anos, na África, a malária matava muitas pessoas. Por tal motivo, a natureza resolveu proteger seus filhos da morte pela malária, provocando neles uma alteração genética que chamamos de mutação, alterando a informação que vem no gene (DNA). Com a alteração, essas pessoas passaram a produzir a hemoglobina S, em vez da hemoglobina A. Assim, quem tivesse na hemácia a hemoglobina S não seria infectado pela malária. Com isso, diminuiu muito a morte pela malária em virtude da imigração forçada, isto é, do tráfico de africanos e dos movimentos populacionais em busca de melhores condições de vida, essa mutação se espalhou pelo mundo.

No Brasil, pelo fato de o país ter recebido uma grande população de africanos e por apresentar alto grau de mistura de raças, existem muitas pessoas com anemia falciforme, principalmente os afrodescendentes.

 

COMO ESSA DOENÇA SE TRANSMITE?

A anemia falciforme é a doença hereditária mais comum no mundo e no nosso país. Todas as características do nosso corpo são feitas por informações que recebemos dos nossos pais por meio dos genes, que vêm no espermatozoide do pai e no óvulo da mãe. Os genes determinam, nas pessoas, a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, a altura, etc. Com a hemoglobina não é diferente. Se uma pessoa receber, do pai, um gene com mutação para produzir a hemoglobina S e, da mãe, outro gene com a mesma característica, tal pessoa nascerá com um par de genes com a mutação e, assim, terá anemia falciforme.

 

MAS O QUE É O TRAÇO FALCIFORME?

 Se uma pessoa receber somente um gene com a mutação, seja do pai ou da mãe, e o outro gene sem a mutação, ela nascerá somente com o traço falciforme. O portador de traço falciforme não tem doença e não precisa de tratamento especializado. Ele deve ser bem informado sobre isso e saber que, se tiver filhos com outro portador de traço falciforme, poderá gerar uma criança com anemia falciforme ou com traço ou sem nada.

O QUE SENTE UMA PESSOA COM ANEMIA FALCIFORME?

 As pessoas com anemia falciforme têm sintomas muito variados. Elas podem não ter quase nenhum sintoma, necessitando de pouca transfusão de sangue ou mesmo de nenhuma e, portanto, com excelente qualidade de vida. Mas existem algumas pessoas que, mesmo com acompanhamento médico adequado, têm crises muito graves da doença, com sintomas de dores ósseas, na barriga, infecções de repetição às vezes muito graves, podendo levar à morte.

Alguns doentes podem ter crises de anemia mais intensas e mais rápidas, necessitando de várias transfusões de sangue com urgência. As crises variam de gravidade e de tipo conforme a idade da pessoa. Os bebês têm mais infecções e dores com inchaço nas mãos e nos pés. Nas crianças maiores, as dores estão mais localizadas nas pernas, nos braços e na barriga. Alguns doentes podem ter até mesmo derrames cerebrais, com lesões graves e definitivas. No dia-a-dia, as crianças com anemia falciforme são diagnosticadas com palidez e muitas vezes apresentam o branco dos olhos amarelado, como na hepatite, sintoma que chamamos de icterícia. Nos adultos, as crises mais frequentes também são de dores nos ossos e complicações devido a danos ocorridos ao longo de sua vida, aos órgãos mais importantes, tais como o fígado, os pulmões, o coração 11 e os rins. Na idade adulta também é comum o aparecimento de úlceras (feridas) nas pernas, que são machucados graves de difícil cicatrização.

(inserir fotos de paciente com anemia falciforme.  fotos criança e adulto)

QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS PARA UMA PESSOA COM ANEMIA FALCIFORME?

Quando descoberta a doença, o bebê deve ter um acompanhamento médico adequado baseado num programa de atenção integral ao doente com anemia falciforme. Nesse programa, os pacientes devem ser acompanhados por toda a sua vida por uma equipe com vários profissionais. Tal equipe deve ser treinada no tratamento da anemia falciforme para orientar a família e o paciente a descobrir rapidamente sinais de gravidade da doença, a tratar adequadamente as crises, quando presentes, e a praticar medidas para prevenir as crises da doença e as infecções graves. A equipe deve ser formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, dentistas, etc. Além disso, as crianças devem ter seu crescimento e desenvolvimento acompanhados, como normalmente é feito com todas as outras crianças que não têm a doença.

QUANTO TEMPO VIVE UMA PESSOA COM ANEMIA FALCIFORME?

A ciência avançou muito no conhecimento da doença e de seu tratamento adequado. O tempo e a qualidade de vida das pessoas com a doença dependem: (1) do diagnóstico feito pelo teste do pezinho, logo ao nascimento; (2) do início da atenção integral; e (3) do envolvimento da família com o conhecimento sobre a doença e a prática do tratamento proposto.

O DIAGNÓSTICO SÓ É FEITO PELO TESTE DO PEZINHO?

Não, mas o ideal é que toda criança, na primeira semana de vida, seja levada ao posto de saúde, para tomar as vacinas de BCG e hepatite B, e para que sejam colhidas as gotinhas de sangue do pé, para se fazer o teste do pezinho. Esse teste não é feito somente para a anemia falciforme; ele é utilizado também para a detecção precoce de mais duas doenças: a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito.

Dados do teste do pezinho mostram que nascem no Brasil cerca de 3.500 crianças, por ano, com doença falciforme e 200.000 com o traço falciforme entre os recém-nascidos vivos. Esses números se configuram como questão de Saúde Pública! Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor a qualidade e o tempo de vida dessas pessoas.

Bahia: A cada 650 crianças que nascem, uma nasce com doença falciforme. A cada 17 crianças que nascem, uma nasce com traço falciforme.

 

ENDEREÇOS DAS ASSOCIAÇÕES DE USUÁRIOS 

FENAFAL – FEDERAÇÃO NACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE DOENÇAS FALCIFORMES Presidente: Altair Lira Tel: (71) 8166-9986 E-mail: fenafal.br@ig.com.br

ABADFAL – ASSOCIAÇÃO BAIANA DOS PORTADORES DE DOENÇA FALCIFORME Presidente: Altair Lira E-mail: abadfal@ig.com.br Rua Jardim Eldorado rua B, nº 99 ap 04 IAPI 40.310-110 – Salvador/BA Tel: (71) 3388-8747

Fonte: Ministério da Saúde 

Além da anemia falciforme, outras doenças, infelizmente, também têm predisposição a acometerem os afrodescendentes. Veja abaixo quais são:

HIPERTENSÃO  ARTERIAL

Hipertensão arterial é uma doença crónica determinada por elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, o que faz com que ocoração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para fazer circular o sangue através dos vasos sanguíneos. A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para a ocorrência do acidente vascular cerebral, tromboembólico ou hemorrágico, enfarte agudo do miocárdioaneurisma arterial (por exemplo, aneurisma da aorta), doença arterial periférica, além de ser uma das causas de insuficiência renal crónica e insuficiência cardíaca

PRÉ-ECLÂMPSIA

 Desenvolvida por mulheres grávidas, a pré-eclâmpsia é um problema grave, marcado pela elevação da pressão arterial, que pode acontecer a qualquer momento da segunda metade da gravidez, ou seja, a partir de 20 semanas, mas é mais comum a partir de 27 semanas.

Os especialistas acreditam que seja causada por deficiências na placenta, o órgão que nutre o bebê dentro do útero. A pré-eclâmpsia é bastante comum, e afeta em sua forma leve até 10% das grávidas. A pré-eclâmpsia grave é mais rara, atingindo 0,5% das gestantes.

Os sintomas são inchaço repentino no rosto, nas mãos ou nos pés; dor de cabeça persistente; perturbações na visão, como vista embaçada ou luzes piscando; dor forte na barriga, abaixo das costelas; e mal-estar geral.

As mulheres negras têm mais probabilidades de adquirir a doença, pois é um mal causado por pressão arterial, e a população negra desenvolve maior incidência de problemas cardiovasculares.

DOENÇAS CARDÍACAS: 

Pessoas negras com casos de doenças cardiovasculares na família têm uma maior propensão para desenvolverem doenças que afetam o sistema cardiovascular.

 

DEFICIÊNCIA DE GLICOSE 6-FOSFATO DESIDROGENASE: 

A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase é um defeito enzimático das hemácias que pode causar episódios de hemólise aguda, ou anemia hemolítica crônica, ou ainda ser assintomático. De fato, a maioria dos afetados são assintomáticos. É o defeito enzimático mais comum da espécie humana, sendo encontrado em muitas populações e com maior frequência entre negros africanos e em mediterrâneos.

 

Nos Estados Unidos, a incidência de G6PD é maior entre a população negra, com uma frequência de heterozigotos (requisito de portador com um gene normal e outro irregular) de 24%, e muro de 10% a 14% dos homens desse grupo são afetados.

 

HEMORRAGIA SUBARACNÓIDE:

 Representa 5% de todos os acidentes vasculares cerebrais e atinge 30.000 casos/ano nos Estados Unidos. Aneurismas na base do cérebro são responsáveis por 80% dos casos, sendo um dos fatores de riscos envolvidos, os portadores de anemia falciforme.

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