São Paulo e Rio - A crise da operadora de telefonia Oi, agravada na última sexta-feira, 10, com a renúncia do presidente executivo Bayard Gontijo, pode levar três bancos públicos - BNDES, Caixa e Banco do Brasil - a perder cerca de R$ 12 bilhões, apurou o jornal "O Estado de S. Paulo".
A saída inesperada do principal executivo da empresa em meio a desentendimentos com os principais acionistas põe em risco o processo de reestruturação financeira da companhia e deixa a operadora cada vez mais próxima de ser obrigada a pedir recuperação judicial, afirmaram fontes familiarizadas com o assunto. Os três bancos são os maiores credores individuais da Oi.
Nesta segunda-feira, 13, a conselheira Robin Bienenstock, membro independente do conselho de administração da Oi, também renunciou ao cargo por discordar da saída de Gontijo.
Fontes afirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que o presidente do conselho de administração da companhia, José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha, nome indicado pelo BNDES, também poderia deixar o grupo.
Procurado pela reportagem, o banco não comentou o assunto. Cunha chegou a assumir temporariamente a presidência da Oi logo após a saída do executivo Franscico Valim, em 2013.
Com dívida bruta de R$ 49,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, a companhia estava tentando nos últimos meses, sob a gestão de Gontijo, renegociar seus débitos bilionários em um acordo extrajudicial, evitando, assim, o pedido de recuperação judicial.
Segundo afirmou uma fonte próxima da operação ao jornal, um dos maiores acionistas individuais da tele, atrás da Pharol (que reúne os acionistas da Portugal Telecom), o BNDES tem cerca de R$ 4 bilhões a receber da empresa.
O Banco do Brasil concedeu empréstimos de cerca de R$ 4,5 bilhões - somando os recursos de suas gestoras de ativos, o total chega a R$ 5 bilhões, ainda segundo a fonte, enquanto a Caixa repassou R$ 3 bilhões.
Procurados pela reportagem, BB, Caixa e BNDES não se pronunciaram.
Na proposta que ainda está sendo negociada, os bancos públicos não só teriam de alongar os prazos, como ainda ficariam com "spread" (diferença entre o custo de captação de recursos e o valor cobrado pela operação) negativo.
Outros credores poderiam transformar a dívida em participação acionária.
Para outra parcela da dívida, a Oi buscava encontrar um investidor que comprasse seus débitos com descontos entre 50% e 70% do valor real, segundo fontes.
Em abril, a empresa anunciou a contratação do banco americano Moelis para dar início à reestruturação de sua dívida. Procurado, o Moelis não quis comentar o tema.
Caso a empresa entre em recuperação judicial, toda essa negociação deixa de valer, segundo pessoas próximas ao caso.
"Se a Oi entrar com pedido de recuperação judicial, o que parece cada vez mais próximo, os bancos públicos entram na fila comum dos credores", disse uma fonte.
Nesta segunda-feira, 13, Marco Schroeder, que assumiu a presidência executiva no lugar de Gontijo, tentou tranquilizar executivos da empresa.
Está prevista para esta terça-feira uma teleconferência entre acionistas da Oi e a PJT Partners, consultoria americana contratada para reunir credores internacionais. Na quarta-feira, o conselho se reunirá para definir os próximos passos da Oi.
O clima é de incerteza no mercado. A dúvida é se Schroeder, pouco conhecido no mercado financeiro, segundo fontes do setor, será capaz de dar continuidade à reestruturação.
No início da semana passada, Gontijo estava em Nova York para negociar com credores internacionais. Segundo uma fonte, executivos e acionistas discordaram sobre contrapropostas a serem feitas aos credores. Procurada, a Oi não comentou.
Em meio às recentes movimentações na Oi, com as renúncias de Bayard Gontijo, presidente da operadora, e de Robin Bienenstock, membro independente do conselho de administração, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu nesta segunda-feira processo para supervisionar a comunicação de notícias e potenciais fatos relevantes da empresa.
Questionada pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, sobre os novos fatos envolvendo a companhia, a CVM respondeu que o assunto está sendo analisado em um processo administrativo pela Superintendência de Relações com Empresas (SEP).
No fim de maio, a Oi já havia sido questionada pela CVM sobre o andamento da negociação de sua dívida financeira junto aos credores. À época, a Oi respondeu que não havia até, aquele momento, definição de proposta a ser implementada que constituísse fato relevante.
Na quinta-feira passada, a Oi foi questionada pela BM&FBovespa sobre as oscilações atípicas de suas ações.
Os papéis da Oi dispararam nos últimos 30 dias: os papéis PN (sem direito a voto) subiram 73,53%, enquanto as ações ON (com direito a voto) tiveram um salto de 104,94%.
Ontem, após as notícias de saída dos executivos, as ações da Oi tiveram alta volatilidade e fecharam em direções opostas. A Oi ON caiu 6,74% (R$ 1,66) e a Oi PN subiu 9,76% (R$ 1,77).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.