Assim como fez durante toda a semana, a imprensa insuflou as manifestações buscando dar um caráter de um apoio unânime da população contra o governo.
De fato, o governo da presidenta Dilma enfrenta uma insatisfação popular, resultado da crise econômica que o país atravessa. Mas o que se viu nas ruas neste domingo foi mais do mesmo.
“A grande imprensa criou um clima de fim de governo, de juízo final e de insuflamento ao linchamento político, moral e físico de quem defende o governo e, particularmente de quem é do PT. Esse contexto todo foi o que insuflou as manifestações”, avaliou Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Para ele, “as manifestações são significativas e legítimas” pois se trata de um direito do cidadão de protestar em face da crise e do descontentamento com o governo Dilma. “As manifestações de hoje são equivalentes às que ocorreram entre março e abril do ano passado. O que mudou foi o agravamento da crise”, pontuou.
De acordo com a mídia, os protestos aconteceram em todos os estados do país. Os comentaristas das emissoras de TV repetem insistentemente que os números “são surpreendentes”. Que foram manifestações “nunca vistas na história do país”. Tudo isso para dizer que há todas as condições para dar um golpe contra o governo.
A jornalista da GloboNews, Renata Lobrete, não escondeu o discurso golpista ao afirmar que, “fazendo as contas olhando para as ruas, vai custar muito caro apoiar o governo depois deste domingo”.
Apesar do discurso do espetacularizante da imprensa - que atuou como organizadora do evento -, o que vimos neste domingo foi uma repetição do discurso de intolerância e criminalização da política vista nos atos anteriores.
Além disso, o que vimos foi uma maioria de famílias do mesmo nível da pirâmide social vista nos atos anteriores que votaram no candidato da direita nas eleições de 2014, o que nos leva à raiz desta crise política que é resultado do inconformismo com o resultado das urnas.
Ação orquestrada?
Para o professor Aldo Fornazieri, as ações de setores do Judiciário influenciaram diretamente os atos deste domingo. “Acho que as manifestações foram insufladas por atos politicamente orientados por parte do Judiciário. Primeiro, com a condução coercitiva do ex-presidente Lula e, depois, com o pedido da prisão preventiva por parte do Ministério Público de São Paulo”, frisou.
Ele também destacou que o vazamento da suposta delação do senador Delcídio do Amaral, publicada pela revista IstoÉ, também tive influência. “Me parece que não há dúvidas de que a IstoÉ é uma revista engajada num golpe político-jurídico desde março do ano passado’, lembrou.
Sobre a atuação da oposição que tenta surfar nas manifestações, Fornazieri destacou: “A oposição não tem força social. Ela vai a reboque dos movimentos que convocam esses atos desde o ano passado. A oposição não tem força, o que demonstra que está ganhando muito pouco com tudo isso”.
Fornazieri disse que outro elemento que se verifica nessa conjuntura é a adesão maior de setores empresariais.
“A Fiesp que apoiou o golpe de 1964 e apoiou a ditadura está apoiando novamente essas manifestações. Uma instituição liderada por um empresário que não tem empresa”, ressaltou.
O professor considera que a participação do governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, nos atos revela uma falta de prudência.
“É um direito que lhe assiste participar das manifestações, mas falta prudência do governador porque tivemos por parte da Polícia Militar a invasão da plenário de apoiadores do ex-presidente Lula, no sindicato dos metalúrgicos em Diadema. E a PM é comandada pelo governador. E provavelmente no dia 18 teremos manifestações em favor do governo. Em caso de confronto, o governador ficará numa situação muito difícil”, frisou.