Fonte: A Tarde
Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil
á imaginou estar em uma show no Parque de Exposições com 100 mil pessoas ou assistir o seu time no estádio lotado e não ter nenhum problema de conexão, com um internet de alta velocidade mesmo em meio a uma multidão? Em um futuro que está muito próximo, todas essas questões serão solucionadas com a evolução da telecomunicação prometida com o 5G, que irá ser ativado em Salvador na próxima terça-feira, 16.
Algumas capitais do Brasil já contam com internet 5G, ainda que em processo inicial de implantação. Na última quinta-feira, 4, o serviço foi ativado na cidade de São Paulo e a expectativa é de que até o final de agosto as demais capitais do Brasil sejam contempladas (exceto Manaus e Belém). A Anatel já faz testes com o 5G em Salvador, Goiânia e Curitiba nesta quarta, 10, para ativar o sinal na próxima semana. O anúncio oficial será feito na sexta-feira, 12, quando ocorre a reunião do Gaispi, grupo responsável por acompanhar a instalação da nova rede.
Mas o que é o 5G? Como essa tecnologia irá mudar as telecomunicações e até mesmo a indústria? A promessa é de uma verdadeira revolução, com mudanças significativas no setor e impactos na vida da população, já que pesquisadores enxergam na tecnologia uma maneira de finalmente democratizar o acesso à internet de banda larga no Brasil e colocar o país como uma representação de internet de qualidade.
O 5G é a quinta geração de tecnologia móvel. O 1G apresentou celulares com capacidade de realizar ligações, ainda com muito ruído. O 2G melhorou a qualidade das ligações de voz e iniciou as mensagens de texto. No 3G, teve início a utilização de internet e no 4G, a conexão foi melhorada com aplicativos e plataformas virtuais que necessitavam de rede móvel.
De acordo com o especialista em Tecnologia da Informação, Renato Carneiro, o 5G "vai multiplicar em até 100 vezes a velocidade da rede móvel e aumentar a capacidade de transmitir de forma simultânea milhares de processos".
"Em uma analogia com uma rodovia, no 4G você consegue apenas transportar um veículo a cada tempo em uma velocidade X, com a 5G você vai transportar milhares de carros no mesmo período e ainda com um aumento de velocidade. Por isso existe uma expectativa muito grande no 5G, que está sendo chamada de internet das coisas, por poder conectar dispositivos e permitir avanços como veículos autônomos e máquinas que realizam atividades também de maneira autônoma. A qualidade, a velocidade e a precisão são muito altas", explicou o especialista ao A TARDE.
De maneira ainda mais didática, é possível definir o 5G como um conjunto de tecnologias que vai melhorar e aumentar a velocidades das conexões móveis, ou seja, as que são transmitidas por ondas de rádio. A tecnologia possui três características que a diferenciam das outras gerações: maior velocidade, baixa latência (tempo de resposta) e a capacidade de conectar uma quantidade maior de dispositivos em uma única antena, mas com uma área menor de conexão.
O membro sênior do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), maior organização profissional técnica do mundo dedicada ao avanço da tecnologia para a humanidade, e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas, Euclides Lourenço Chuma, usou o exemplo das conexões em grande multidões para explicar o impacto do 5G.
"O 5G vai permitir que sejam conectados mais dispositivos à rede de internet em uma mesma área. Ele permite a reconfiguração da rede em tempo real. Se naquele momento em um jogo (de futebol) precisa de 50 mil conexões para 50 mil torcedores, a inteligência do 5G vai redirecionar os recursos da rede automaticamente para atender esse pessoal. Passou o jogo, ele volta com os recursos para o que era anteriormente", disse o pesquisador em entrevista ao A TARDE.
"A Anatel verifica principalmente a questão da interferência. O serviço de 5G não pode interferir em outros serviços de rádio, que são sensíveis, como em aeroportos em que a vida das pessoas estão em risco. Mas a principal questão é das antenas parabólicas analógicas antigas, que tem sinal próximo do sinal do 5G. Quem está sempre nos grandes centros às vezes não dá importância para essa parabólica, mas existem milhões de pessoas que ainda utilizam desse serviço no Brasil. É um serviço acessível a todos e que alcança qualquer região do Brasil. É algo essencial que precisa ter seu funcionamento garantido", afirmou Euclides Chuma.
Já em todo do Brasil, com o alcance em locais remotos, a previsão é o ano de 2029. Apesar do longo prazo, o objetivo é que o 5G atinja todo o território do país, inclusive as cidades mais afastadas dos grandes centros e outras áreas remotas. Tudo depende da concretização da implantação necessária, que após um investimento inicial exigirá menos do que o 4G em questão de infraestrutura.
"Nós pesquisadores pretendemos usar o 5G para corrigir isso (conexões em regiões afastadas dos grandes centros). O 4G depende de uma infraestrutura complexa, com antena grande, estação de rádio grande, o que não acontece na nova tecnologia, que transfere a parte de controle do tráfego para os datacenters, que podem ficam nas capitais", contou o membro da IEEE.
A maioria dos aparelhos celulares ainda não estão sendo vendidos com compatibilidade para o 5G, os que estão são os de maiores valores e mais recentes. Aliado ao início de implantação apenas nas capitais, a falta de acessibilidade inicial liga o alerta para o acesso a tecnologia, que em um primeiro momento deve ficar concentrada entre aqueles com maior poder aquisitivo.
"Como toda tecnologia, quem desenvolve precisa recuperar o investimento que ela fez, então começa com um custo maior, até pela implantação da infraestrutura aos poucos até o ponto que se torne tão barato ou até mais barato do que o 4G, mas de início realmente os celulares compatíveis ao 5G tendem a ser os mais caros", pontuou Chuma.
Expectativas do 5G para o futuro
Em 2021, o Governo Federal promoveu um leilão com uma série de exigências que as dez empresas vencedoras precisariam cumprir, entre elas estava a implantação nas capitais até julho deste ano, o que não aconteceu por falta de ajustes necessários, segundo a Anatel. O saldo foi de R$ 46,7 bilhões movimentados por dez operadoras ganhadoras em que as grandes vitoriosas ainda foram as três grandes empresas nacionais do setor: Vivo, Tim e Claro, que arremataram os principais lotes.
Entre as obrigações que as empresas terão que cumprir está a garantia de internet 4G nas rodovias brasileiras, instalação da rede de fibra óptica, via fluvial, na região amazônica, financiamento dos custos da migração da TV aberta via satélite da banda C para a banda Ku e a garantia de internet móvel de qualidade nas escolas públicas de educação básica.
Apesar dos problemas iniciais, os especialistas tem altas expectativas em relação ao 5G e tratam até mesmo como algo que irá revolucionar os setores de telecomunicações e indústria, bem como auxiliar na formação de novas tecnologias.
"Conseguiremos colocar em prática todas as tecnologias que já estão sendo desenvolvidas e precisam de um canal rápido e de muitas conexões simultâneas, como é o caso da tecnologia 5G. A latência do 5G se comparado com o 4G é muito menor. A velocidade sairia de 6 milissegundos para praticamente zero. Isso é muito importante para aplicações que precisam de resposta rápida e confiabilidade, como por exemplo uma cirurgia remota feita a distância por um especialista com o uso de robôs", falou Renato Carneiro.
"Eu sou muito otimista em relação ao setor de telecomunicações e sempre dou exemplos de como evoluímos rapidamente. 30 anos atrás você fazer uma chamada de vídeo era coisa do desenho Jetsons (desenho animado), algo futurista, e hoje é completamente viável. O 5G vai ser a tecnologia que vai consolidar e abrir o caminho para outras tecnologias que estão chegando, como os carros autônomos, as cirurgias remotas com robôs cirurgiões, o que eu acho fantástico. A tecnologia vem para melhorar a qualidade de vida das pessoas", concordou Euclides Chuma.
Segurança é essencial
A adoção do 5G vai exigir uma maior preocupação com a segurança cibernética. Isso porque a nova tecnologia vai permitir uma maior conexão de dispositivos interligados ao mesmo tempo em uma mesma área, o que pode abrir brechas para invasores, alerta Euclides Chuma.
"Por causa dessa grande inovação, permitindo uma maior quantidade de dispositivos conectados, vão ser necessários novos protocolos de segurança", adverte. Segundo Chuma, a indústria vai precisar criar mecanismos para deixar esses artigos digitais – automóveis, eletrodomésticos, aparelhos vestíveis, entre outros – já configurados com um certo nível de segurança para serem comercializados. "Vai ser bom ter tudo conectado, mas com segurança."
Uma das formas de proteção de invasões maliciosas nos vários dispositivos será a adoção de tecnologias como a blockchain - que é um livro-razão compartilhado e imutável usado para registrar transações, rastrear ativos e aumentar a confiança nas atividades - para dificultar ataques cibernéticos à aparelhos residenciais, veículos, criptomoedas e de dinheiro armazenado em bancos.
Países como Estados Unidos, Austrália e algumas nações da Europa já estão utilizando o 5G com sucesso. "Na Austrália, por exemplo, operários da construção civil utilizam óculos de realidade virtual e streaming de 8K de 360 graus com câmeras de vídeo sem fio para analisarem como ficará a infraestrutura de dutos no local da obra em construção", descreve o membro do IEEE. No Brasil, a nova banda começou a operar, em julho, na cidade de Brasília, e chegou recentemente em Belo Horizonte, Porto Alegre, João Pessoa e São Paulo.