Fonte: G1
A redução de verbas feita pelo Ministério da Educação já está prejudicando o dia a dia das universidades federais em todo o país.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a maior universidade federal do país e uma das mais inovadoras. Mas seus 67 mil alunos e quatro mil professores temem pelo futuro.
“Se você corta aquilo que faz o Brasil crescer, como é que você quer um país melhor?”, pergunta uma estudante.
“É dramático o que está ocorrendo”, diz, por sua vez, uma professora.
Dos R$ 3,2 bilhões contingenciados do ensino superior no Brasil, R$ 112 milhões foram tirados da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que deu início a um plano de ajuste com várias medidas.
Entra elas estão a suspensão dos serviços de celular para quem ocupa cargos de representação; de passagens internacionais e diárias nacionais na graduação; da manutenção externa e jardinagem; e o racionamento do uso de veículos.
A partir desta segunda-feira (9), dos 150 carros oficiais da UFRJ, apenas um terço vai continuar funcionando. A prioridade é manter serviços essenciais como as ambulâncias dos nove hospitais universitários e o transporte para as pesquisas de campo.
Segundo a reitoria, novas medidas vão ser adotadas em breve, se o governo não liberar os recursos, porque o dinheiro destinado à manutenção do campus acabou.
“Temos tentado sensibilizar o Ministério da Educação para que eles repassem o mínimo de verbas para que a gente não precise parar. O governo recolheu a verba de custeio, que é para pagamento de limpeza, segurança, conta de luz, conta de água. Isso não deixa a universidade funcionar, se isso continuar acontecendo”, disse a reitora da UFRJ, Denise Carvalho.
O cenário é o mesmo em várias universidades do país. A Universidade Federal de Minas Gerais renegociou contratos de terceirizados e suspendeu investimentos em obras em 2019.
“Verba tem. Agora, você tem que saber distribuir isso daí. E educação e saúde são as principais”, diz a professora.
Na Universidade Federal de Mato Grosso, serviços terceirizados como o restaurante universitário foram suspensos, assim como o transporte interno no campus de Cuiabá e o programa que oferece auxílio-moradia e alimentação para estudantes de baixa renda.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) cortou o ar-condicionado na maioria das salas de aula.
“Agora a gente chegou num limite que precisa de fato entender que a gente não consegue funcionar sem o desbloqueio”, alertou Thiago Galvão, pró-reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças da UFPE.
Em Santa Catarina, a universidade federal também reduziu a vigilância do campus e o número de terceirizados de limpeza e jardinagem.
A suspensão dos serviços agrava a crise nas universidades, que já tiveram 11.560 bolsas de estudo cortadas pela Capes, só em 2019. Mas o ministério afirma que não houve cortes no orçamento, apenas um contingenciamento de recursos que ainda podem ser liberados.
“Teremos notícias positivas na segunda quinzena de setembro. Temos um cenário de receita mais positiva e isso gerará descontingenciamento para várias áreas do governo, inclusive para o Ministério da Educação. Garanto aos alunos e a todos aqueles apaixonados pela educação que não faltarão recursos para termos nossas atividades executadas com êxito ao longo deste ano”, disse Arnaldo Lima, secretário de Educação Superior do MEC.
A professora da UFRJ Elenice Guimarães dribla a falta de recursos levando até resma de papel de casa para as aulas.
“É por isso que a gente está aqui, para lutar. O máximo que se pode fazer para impedir a fuga do aluno a gente tem que fazer”.