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Relações abusivas, em que uma pessoa exerce controle, manipulação ou violência física, emocional ou psicológica sobre outra, costumam dar sinais logo no início. Esses comportamentos, ainda que sutis e muitas vezes ignorados, principalmente quando estamos apaixonadas, tendem a piorar com o tempo. 

Por isso, o Portal Catarinas preparou uma lista de sinais de alerta para identificar essas dinâmicas de poder e controle, mesmo nas primeiras fases de um relacionamento. Reconhecer esses sinais é fundamental para prevenir abusos e proteger o bem-estar emocional e físico de quem está envolvido.

Nossa lista foi baseada em uma conversa com Mari Luz, psicóloga e Diretora de Saúde do Me Too Brasil; estudos de Elizabeth Zamerul, psicoterapeuta especializado em dependência emocional e relações abusivas; a cartilha Namoro Legal, desenvolvida pelo Ministério Público de São Paulo; a publicação sobre relacionamentos abusivos, do Tribunal de Justiça do Paraná; e a cartilha elaborada pelo curso de Psicologia do Centro Universitário UNA (União de Negócios e Administração).

“Identificar manipulações em um relacionamento pode ser desafiador, mas é o primeiro passo para a autoafirmação”, descreve Zamerul, autora do livro “Juntos Porém Livres – Harmonizando Amor e Individualidade”.

Atenção: relacionamento não é só namoro ou casamento

Mari Luz afirma que relacionamentos abusivos podem ocorrer em diferentes tipos de relação, como namoros, casamentos, amizades, entre familiares e em ambientes de trabalho. “A única coisa que vai mudar é a maneira como vai se manifestar. Em um relacionamento amoroso, pode ter restrições de roupas, críticas o tempo todo e isolamento. No familiar, é a pessoa que faz chantagens porque é pai, mãe, irmão, etc. E está sempre forçando você a fazer coisas que você não quer”, exemplifica.

1. Desconforto ou insegurança

Luz destaca entre os sinais de alerta que estão relacionados com outros, o desconforto gerado pela relação. “Sempre que a gente vive um relacionamento abusivo, a gente não está confortável. A gente pode até não entender o que está errado, mas a gente se sente incomodada, desconfortável e angustiada o tempo todo”, descreve. Esses sentimentos são sinais de alerta que algo está errado.

“Se você se sente culpado por respirar ou por não atender a todas as demandas do seu parceiro, é hora de acender o sinal de alerta. Manipuladores adoram jogar a culpa para manter você sob controle”, aponta Zamerul.

Se você sentir esse desconforto, a cartilha Namoro Legal cita duas perguntas que você pode se fazer para refletir sobre o relacionamento:

• As pessoas dizem, em tom de preocupação, que você está diferente por conta dessa pessoa?
• Você já teve medo da pessoa alguma vez?

2. Medo e vergonha

Elizabeth Zamerul cita que o medo é uma ferramenta usada para manipulação. “Manipuladores podem usar ameaças sutis ou explícitas para criar um ambiente de medo, fazendo você sentir que está sempre pisando em ovos. Isso pode incluir ameaças de explosões emocionais, de terminar o relacionamento, de expor segredos, e outras”, cita.

A vergonha é outro sentimento usado para manipular e controlar em um relacionamento. “Manipuladores muitas vezes usam a vergonha para fazer você sentir que está constantemente afundando, minando sua confiança e autoestima. Se você se pega frequentemente duvidando do seu próprio valor ou se desculpando por ser quem é, é hora de reavaliar”, explica a psicoterapeuta, que trabalha há mais de 30 anos com dependência emocional.

Zamerul resume que não é normal viver com constante medo e vergonha em um relacionamento. Por tanto, são sinais que você deve ficar em alerta.

3. Ciúme excessivo

A pessoa tem ciúmes dos seus amigos e amigas, das suas atividades e da sua família? Cismou que você dá bola para todo mundo? É um sinal de alerta.

Exemplos de frases que você deve ficar atenta:

• “Se sair, não volte mais”;
• “Não deixo você ir”;
• “Eu não quero que você fique saindo com fulano ou beltrano”;
• “Ninguém mais vai te amar como eu te amo”;
• “Se você não me emprestar dinheiro, não somos família”;
• “Se você não for minha, não será de mais ninguém”.

O ciúme excessivo também se demonstra quando a pessoa se intromete demais na sua vida. Ela pediu a senha ou monitora seus e-mails, ligações, mensagens e redes sociais? Quer tomar decisões em questões pessoais, do trabalho ou educação? São sinais de alerta.

4. Falar mal de ex

Uma pessoa reclamar de forma excessiva de relacionamentos anteriores, sempre tratando a pessoa como irracional ou instável, pode indicar falta de maturidade emocional, sinais de vitimização e é uma ferramenta usada para manipulação posterior. Alguns exemplos de falas:

• “Minha ex é louca”;
• “Você não é como as outras, todas as minhas ex eram muito dramáticas”;
• “Ela era uma amiga completamente horrível”;
• “Todos os meus amigos me abandonaram, só você ficou, não faz isso comigo também”.

5. Isolamento

A intromissão também está relacionada com outro ponto que pode ser usado para tirar sua independência. A pessoa não quer que você frequente e converse com famílias e amigos? Fala que sua amiga não é sua amiga de verdade? Isso pode representar sinais de alerta.

“Para a pessoa te controlar e você fazer tudo o que ela quer, não pode ter interferências externas de outras pessoas”, explica Luz sobre o objetivo do isolamento.

A cartilha Namoro Legal aponta que pessoas dominadoras usam estratégias para tirar a independência das mãos de quem está se relacionando e cita exemplos de frases para ficar atenta:

• “Se você engravidar, seus pais vão ter que me aceitar”;
• “Eu vou te dar a vida de princesa que você merece e sempre sonhou”;
• “Você sabe como eu gosto de você, mas sabe que não é muito inteligente”;
• “Estudar pra quê? Olha só quanta gente rica que nunca estudou”;
• “Vamos sair só hoje, mais uma falta não vai te reprovar”;
• “Não precisa estudar ou trabalhar, você tem alguém que cuida de você”.

6. Brigas constantes

“A tensão recorrente provoca brigas constantes”, cita Luz. Ofender, xingar, constranger e discutir constantemente são sinais de alerta em um relacionamento. O Guia do Namoro Legal alerta: não caia no conto que o amor pode mudar uma pessoa. Após brigas, normalmente o agressor pede desculpas, diz que se arrependeu e isso nunca mais vai acontecer, mas isso se transforma em um ciclo e tudo volta a acontecer.

“Um dia, você é o sol da vida do seu parceiro; no outro, ele te trata como se você fosse um par de meias furadas. Essa montanha-russa emocional pode ser um sinal de manipulação”, descreve Elizabeth Zamerul.

7. Forçar a fazer coisas que não quer ou para que você mude características sobre si mesma

A pessoa querer controlar o que você veste, o que faz, lugares que frequenta e pessoas com quem se relaciona é um sinal de alerta em um relacionamento.

“Se essa pessoa prefere que você ande de calça, com blusa de manga, sem decote, sem maquiagem, que você não vá no salão, que você não faça terapia. A pessoa quer controlar tudo, te fazendo mudar e fazendo você ser quem ela quer que você seja. Mas esse é um ciclo que nunca tem fim e você nunca vai ser o suficiente”, exemplifica Luz.

Por isso, a cartilha Namoro Legal alerta: críticas devem ser construtivas e isoladas. Quem gosta de verdade aceita, apoia e incentiva, não anula a outra pessoa.

8. Ameaças e chantagens

A pessoa diz que vai abandonar a pessoa ou expor segredos se não fizer algo ou recusar algo. Também, usa os sentimentos do parceiro para que eles ajam de acordo com seus interesses. Frases que podem ser usadas nessas situações:

• “Se você me ama, não vai usar esse batom”;
• “Se sair, não volte mais”;
• “Se você me ama, não vai andar com essas pessoas”;
• “Se você me ama, não vai na casa da sua família”;
• “Se você me ama, como você vai falar não para mim?”

Outra forma de chantagem utilizada em um relacionamento é o tratamento de silêncio, ou seja, a pessoa ignorada a outra propositalmente como forma de punição.

“Às vezes, a pessoa cede a essas chantagens e pressões, achando que vai ter um limite, que em algum momento ela vai ser quem essa pessoa quer. Mas isso nunca acontece”, alerta a psicóloga Mari Luz.

Me identifiquei com os sinais. E agora?

A psicóloga Mari Luz aponta que a terapia é fundamental nesse processo. “O primeiro ponto é identificar e, depois, entender que você é uma pessoa que pode viver uma vida diferente, que é uma pessoa que merece amor, terapia é muito indicado para ajudar no reconhecimento do que está vivendo, mas também para fortalecer a autoestima e não repetir ciclos”, explica.

Acionar uma pessoa que você confia também pode ser um passo importante. A cartilha Namoro Legal, inclusive, descreve a família, as amigas e os amigos como as armas secretas para as situações difíceis.

Elizabeth Zamerul destaca a importância de manter limites explícitos em uma relação. “Eles protegem o que é importante para você e mantêm fora o que não é. Comunicar esses limites de forma explícita e consistente é essencial para evitar manipulações”, complementa.

Se você é mulher e identificou que vivenciou situações de violência, pode acionar o Ligue 180 do governo federal. O serviço orienta mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento, incluindo, se necessário, acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade.

Pensei em alguém que eu conheço quando li os sinais. E agora?

Luz destaca que famílias e amigos precisam deixar a porta aberta para que a pessoa tenha alguém para contar quando precisar de ajuda.

“Muitas vezes, amigos e familiares se sentem impotentes porque veem a pessoa em uma má relação, mas a pessoa não consegue sair. Deixar a porta aberta para diálogo e acolhimento é muito importante, porque a pessoa vai olhar pro lado e saber que tem uma pessoa que não julga e vai poder ajudar”, finaliza.

Como manter um relacionamento saudável?

Relacionamentos fazem parte da vida humana e sempre devemos buscar relações saudáveis. A cartilha do Namoro Legal é uma ferramenta que pode te guiar no desenvolvimento de relacionamentos saudáveis. Apesar do documento partir de relações amorosas, você pode reinterpretar para diferentes situações em sua vida, incluindo amizades e família. Confira o guia produzido pelo Catarinas a partir do conteúdo da cartilha: