Recentemente um desses jornalões conservadores, mais precisamente no dia 26/11/2023, o Estadão, publicou uma matéria assinada por Carlos Eduardo Valim, mostrando a diversidade de serviços que as operadoras estão oferecendo aos usuários, para tentar se manterem competitivas no mercado.
Pois é, estas empresas transnacionais que a matéria cita, em vez de tentarem expandir seu negócio diversificando-o, deviam democratizar os serviços de Telecom com preços acessíveis à população, universalizar o atendimento para todo povo brasileiro, mas estão mesmo é preocupadas a explorar os grandes centros urbanos, nenhuma delas abra mão do lucro.
Não podemos cair na falácia que a privatização do segmento foi o propulsor das inovações tecnológicas e as empresas como a Vivo, Tim e Claro são as inovadoras do segmento, vamos devagar com o andor.
A privatização das telecomunicações brasileiras ocorrida na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 29 de julho de 1998, ou seja, há 25 anos, foi palco de muito enfrentamento de vários dirigentes sindicais telefônicos confrontando as forças oficiais, porque tinham consciência que o povo estava sendo iludido e mais dia menos dia essa conta chegaria para o povo pagar.
Na época vários dirigentes telefônicos deslocaram-se em caravanas de outros estados para o Rio de Janeiro, (nós do Sinttel Bahia estávamos lá), após quase dois dias pela estrada, mas chegamos inteiros e dispostos a protestar e defender o estado como controlador. Travou-se ali um grande embate de setores da população simpáticos a causa e dirigentes sindicais com a polícia local em torno da Bolsa de Valores, parta tentar impedir aquela farsa montada pelo Ministro Sérgio Mota, ministro das Comunicações em parceria com o neoliberal FHC.
Estava dada a largada para o malfadado rito de estado mínimo em nossas telecomunicações. Mesmo com várias liminares em curso os privatistas gananciosos, não respeitaram a justiça e decretaram a privatização das telecomunicações vendendo a preço de banana como estampou os jornais da época.
Não é razoável comparar os avanços tecnológicos alcançados atualmente com as tecnologias de 25 anos de outrora. O mundo mudou a para todos e em todos os segmentos, inclusive o Setor Telecom.
Falo isso com a propriedade de quem conhece um pouco o setor e a certeza de que se houvesse uma empresa com o controle do estado como defendíamos, este mercado seria melhor regulado, com as tecnologias atuais e o consumidor final seria melhor atendido. Temos uma das mais altas tarifas do planeta e isto está na conta da privatização.
Dialogando com meu camarada do Sinttel R.S. o “uruguaiucho” Juan Sanchez, ele afirma categoricamente que no Uruguai as telecomunicações que diga-se de passagem, não foram privatizadas, tem as tecnologias de ponta como as empresas privadas daqui, só com uma diferença: as telecomunicações numa empresa gerida pelo estado é para todos, como é o caso daquele país, já no mercado privado o serviço é só para quem tem dinheiro para pagar. Afirma ainda que em qualquer praça pública de Montevidéu o povo acessa o wi-fi sem ter que ficar mendigando o sinal de internet nas instituições privadas como, infelizmente, acontece aqui, porque onde há empresa privada a tarifas não tem graça, e só usa quem pode pagar.
Com o advento da privatização a universalização e democratização das telecomunicações é jogada na lata do lixo, e o que importa para os donos destas empresas transacionais é o lucro a qualquer custo.
DE VOLTA ÀS ORIGENS
Em grandes centros mundiais empresas como a British Telecom, France Telecom, Telecom Itália, Deutsche Telekom, Telefônica de Espanha, etc., saíram mundo afora comprando as empresas estatais dos países periféricos visando exclusivamente ampliar seu capital. Nos rincões destes países não há retorno financeiro para estas empresas, por isso jamais vão ampliar suas redes de atendimento, deixando uma considerável parcela da sociedade no apagão total.
Felizmente estes grandes centros mundiais já estão fazendo o caminho de volta por perceber “o barco furado” que é a privatização indiscriminada. O estado está tomando conta dos grandes centros urbanos da Europa e voltando ao controle destas empresas para o bem do povo.
A privatização daqui foi política de terra arrasada, já nos países hegemônicos eles privatizaram suas empresas de capital misto, mas tiveram o cuidado de salvaguardar os interesses dos seus países. Todas estas empresas transnacionais citadas dentre outras, tiveram o cuidado de manter sobre o controle de seus países 51% das ações destas empresas de Telecom e apenas 49% das ações foram pulverizadas na privatização do dito 1º mundo.
COMO FICOU A EMPRESA EX ESTATAL BRASILEIRA?
A ex Telemar atual Oi S/A ex estatal que tinha a maior rede de malha de cobre que cortava todo o país, foi submetida a sucessivas transformações e sucateamentos, descasos e desvalorizações, vendas de ativos, demissões em massa de seus empregados os quais saiu de cerca de 4 mil trabalhadores na Bahia para cerca de 300 trabalhadores atualmente. A terceirização é a tônica destes gestores atuais, e consequentes sobra para os trabalhadores acordos coletivos cada ano mais precarizados. Hoje a ex estatal resume-se a uma empresa de infraestrutura, por conta desta política de terra arrasada está agonizando na 2ª Recuperação Judicial.
Salvador, 29/11/23
Orlando Helber é dirigente sindical do Sinttel Bahia.