Combate ao Racismo 18/01/2018

Morre Mestre King, pioneiro da dança afro na Bahia e no Brasil

 

Morreu na tarde deste sábado (13), aos 74 anos, Raimundo Bispo dos Santos, Mestre King, pioneiro da dança afro na Bahia e no Brasil. A notícia foi confirmada pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), em seu perfil no Facebook. Segundo a fundação, o professor e coreógrafo já estava há um tempo tratando de insuficiência renal e morreu em sua casa.

“Ele muito nos inspirou, entusiasmou, impulsionou e muito nos referenciou na Arte da Dança! (…) Ainda sem informações quanto a seu sepultamento, nós nos solidarizamos com sua família, amigos e manifestamos todas as nossas condolências e pesar por sua passagem. Mestre King, muito obrigado!”, diz a nota da Funceb.

Grande perda
Amigos e admiradores do dançarino lamentaram sua morte. “Querido, carinhoso, atento, e um excelente professor. Gratidão, Mestre. Que os irmãos de luz possam te receber com uma grande baile. Ficou a grande saudade e maravilhosas lembranças. Salve King”, escreveu Surama Albuquerque, uma aluna, em uma postagem do cantor Tonho Matéria. O professor de dança Fabricio Costa também lamentou o ocorrido: “Mestre King se tornará uma estrela no céu! Um pedaço da Dança Afro Brasileira se foi”. “Grande tristeza e uma grande perda para o mundo da dança. Agora vai dançar no céu”, postou Cristina Lospennato.

Autor de mais de 100 coreografias, King fez história ao ser o primeiro homem a ingressar, em 1976, no curso de licenciatura em Dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em 1989, concluiu a especialização em Coreografia, também pela UFBA.O Jornal Nacional anunciou, em 1971: “Primeiro homem da América Latina a fazer vestibular de dança: Raimundo Bispo dos Santos”. Ao receber a notícia que tinha sido aprovado na Ufba, o baiano de Santa Inês jamais imaginaria que se tornaria Mestre King, um dos precursores da dança afro-brasileira, com reconhecimento internacional.

Responsável por formar os principais nomes da dança afro na Bahia, como Zebrinha, Augusto Omolu, Armando Pequeno e Paco Gomes, Mestre King revolucionou a prática e o ensino da dança contemporânea. Para celebrar o dançarino e coreógrafo que ultrapassa 50 anos de carreira, aos 74 anos, nasceu o documentário Raimundos: Mestre King e as Figuras Masculinas da Dança na Bahia.

Apesar de ter nascido em 1943, em Santa Inês, Bahia, aos quatro anos mudou-se com a família para Santo Antônio de Jesus, onde morou até os sete anos, indo depois residir em Salvador. Filho de uma família humilde, composta por seis irmãos, Raimundo cresceu no interior e teve a infância rica de brincadeiras como qualquer criança de sua idade. Em Salvador, foi adotado por uma família de Árabes, de bom poder aquisitivo, que morava no Pelourinho, Centro Histórico da cidade de Salvador. Eduardo Sarquis e Rosenete Moisés Sarquis tinham cinco filhos, Raimundo era o mais novo. Seu pai era comerciante e sua mãe dona de casa.

Através de seus dotes na capoeira, Raimundo conheceu a professora Emília Biancardi, folclorista e musicóloga, que lhe ensinou a cantar maculelê e lhe apresentou conteúdos folclóricos como o samba de roda e a puxada de rede, e o candomblé. Ele conta que ela viajava para fazer pesquisas na área de dança e que ele sempre a acompanhava nas suas empreitadas. Assim, além de jogar capoeira e cantar no coral, King também cantava em companhias de dança e música. Na sua experiência como cantor, King descobriu que era também um bom dançarino.

Em 1972, ele foi convidado para cantar no projeto Olodumaré, hoje Brasil Tropical, na Alemanha. Acontece que nessa época ele também estava no momento de prestar vestibular. O garoto decide, então, abrir mão da viagem e tentar uma vaga para o curso de dança na Ufba. A respeito desse acontecimento King dizia: “eles diziam que eu deveria conhecer o mundo… que a escola do dançarino é o mundo. Eu dizia que essa época estava passando, que a minha arte só estava começando… eu queria aprender mais sobre minha cultura, sobre minha origem”.

Até essa época nenhum homem havia prestado vestibular para dança, e quando questionado a respeito desse fato, ele diz que o maior preconceito que sofreu foi com os amigos que ficavam gozando da sua cara. King comentou, em livro publicado por Débora Ferraz de Oliveira, que seus pais nunca o condenaram por sua escolha, muito pelo contrário, relata que eles o apoiavam a partir do momento em que ele acreditava que aquilo seria o melhor para sua vida. “Eu durmo, eu como, eu respiro a dança. Hoje eu sou o que sou graças a dança”, disse, em um programa Soterópolis, da TVE Bahia, em 2009.

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