Notícias 15/05/2019

Políticas do golpe e de Bolsonaro tiram o povo do ensino superior

Fonte: Vermelho.org

Matéria do jornal Folha de S. Paulo diz que a crise e cortes freiam redução de desigualdade no ensino superior. De acordo com a matéria, pesquisa de economista indica reversão de tendência a partir de 2015; perspectiva é de piora. “O avanço do Brasil ao longo de mais de uma década em ampliar o acesso à educação superior, tornando-a mais representativa da população geral tanto em termos tanto de renda como de cor, foi interrompido pela crise econômica e os cortes orçamentários, indica pesquisa da economista Ana Luíza Matos de Oliveira”, diz a matéria.

Se essa situação não for revertida, deve levar a mais concentração de renda, uma vez que o Brasil é um dos países do mundo em que a conclusão de uma graduação resulta em maior ganho salarial. Com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE, ela analisou dados de alunos de faculdades tanto públicas como privadas, afirma a Folha. Os resultados mostram que, apesar da importante persistência de desigualdades, o perfil dos alunos de graduação se aproximou cada vez mais do da população em geral entre 2001 e 2015, tanto no quesito renda como nos de cor e de diversidade regional, e tanto nas universidades públicas como nas particulares.

Sinais

Há 18 anos, apenas 21,9% dos universitários eram pretos ou pardos. Em 2015, esse percentual chegou a 43,5%. Pretos e pardos são 53,4% da população brasileira, relata a matéria. Em 2001, os estudantes de graduação que estavam entre os 30% de maior renda familiar do país eram 82% do total do alunado. Em 2015, eram 51,5%. Em 2016, porém, a tendência de redução da desigualdade é revertida, em meio a crise econômica e cortes no Orçamento. Se a participação dos negros segue em alta, principalmente devido à intensificação de políticas afirmativas, de 2016 para 2017 a distância entre os 30% mais ricos e os 70% mais pobres aumentou no ensino superior, segundo os dados da Pnad Contínua.

Para Ana Luíza, segundo a Folha, é preciso analisar uma série temporal mais longa para verificar se esse aumento da desigualdade educacional se confirma. Os sinais atuais, contudo, não são positivos em sua avaliação, diante dos cortes de verba. “Se o mercado de trabalho voltasse a ter uma pujança, um dos fatores de inclusão poderia ser retomado. Porém, outra questão muito importante são as políticas públicas”, afirma, citando programas como o Fies, que dá financiamento; o Prouni, que troca bolsas por isenção tributária; o Reuni, que expandiu as vagas em universidades federais; e as cotas para negros e para indígenas.

Para corroborar essa hipótese, ela estudou na sua pesquisa o caso da Índia, onde também houve expansão de vagas, mas não foram implantadas políticas na mesma medida. Com isso, a desigualdade de acesso ao ensino superior aumentou no país. “As políticas públicas são fundamentais, porque os mais pobres têm menos condição de arcar com a universidade”, diz.

O problema não deve melhorar tão cedo. Professora da UnB (Universidade de Brasília), Ana Cristina Murta Collares lembra que políticas de permanência estão entre as primeiras que devem afetadas pelos cortes anunciados pelo governo Jair Bolsonaro. Parte das bolsas de iniciação científica, por exemplo, vêm de recursos que serão enxugados, diz a Folha

Janela

Também para Murillo Marschner Alves de Brito, professor do departamento de Sociologia da USP, o cenário não é promissor. “Quanto mais restrição de recursos para políticas desse tipo, maior é a tendência de aumento da desigualdade, porque as pessoas vão depender mais da própria renda para bancar seus estudos”, diz. Ele lembra ainda que, mesmo com algum avanço, principalmente no ensino superior público, a desigualdade ainda é considerável, como mostra o fato de os universitários entre os 30% mais ricos ocuparem 50,4% das vagas. 

Pondera ainda que, mesmo para quem está no sistema, as condições de acesso são desiguais, uma vez que jovens mais pobres precisam, por exemplo, trabalhar ao longo do curso. Para Brito, ainda é preciso mais tempo para confirmar se há realmente um processo de aumento da desigualdade no ensino superior. Ainda assim, ele já vê sinais de esgotamento dos fatores que ajudaram a aumentar o número de pessoas elegíveis a cursar uma faculdade, como o aumento do número de jovens. “Ao que tudo indica, vamos perder a janela demográfica”, afirma.

 

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