Combate ao Racismo 08/01/2019

Racismo no Brasil: Existe? o que queremos dizer com a palavra racismo?

Antes de tentarmos entender se existe racismo no Brasil, é preciso entender o que queremos dizer com a palavra racismo.

O que é Racismo

O racismo, na definição do dicionário é “preconceito exagerado contra pessoas pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente considerada inferior” ou ainda “atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos”. Esta  é a definição do dicionário Michaelis para o racismo.

A definição mais comum, no entanto, é mais complicada. Cada sociedade, país ou cultura entendem como racismo atitudes de diferentes graus. Para que possamos partir de um pressuposto comum, utilizaremos a definição social da Organização das Nações Unidas, que definiu em seutratado internacional de direitos humanos o seguinte:

“toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.”

Quando falamos em racismo, de um modo geral, nos referimos ao preconceito contra negros. O próprio ImprenÇa já compilou alguns dados sociais dos negros no Brasil, mas é sempre bom relembrar, para que possamos concluir, com dados, se existe ou não racismo no Brasil.

O dado concreto é que as pesquisas mostram que 90% dos brasileiros acham que existe racismo no Brasil. Mas apenas 1,3% dos cidadãos se entendem como racistas. Ou seja, o racismo, segundo pesquisa Data Popular de 2014, está sempre nos outros.

Já o instituto Ibope, em pesquisa mais recente, concluiu que 2 em cada 10 brasileiros admitem serem preconceituosos. Mas 73% deles assumem já ter feito comentários considerados racistas, machistas ou homofóbicos, segundo o mesmo levantamento. Especificamente sobre o racismo, 46% dos entrevistados já fizeram ou já presenciaram uma declaração discriminatória em relação aos negros.

73%

Já fizeram comentários preconceituosos

46%

Já fizeram ou já presenciaram discriminação racial

Racismo na Educação?

Mas para que não fiquemos só na opinião subjetiva das pessoas entrevistadas, vamos pegar os dados de educação para uma análise a respeito da situação dos negros no Brasil. Os dados sobre a educação foram retirados do IPEA:

Taxa de analfabetismo entre negros e brancos

Anos de estudo entre negros e brancos

O que dizem os dados sobre educação de negros e brancos no Brasil

Se examinarmos a escolaridade das pessoas adultas, salta aos olhos também o diferencial de cor/raça. Apesar dos avanços nos últimos anos, com mais brasileiros e brasileiras chegando ao nível superior, as distâncias entre os grupos perpetuam-se. Entre 1995 e 2015, duplica-se a população adulta branca com 12 anos ou mais de estudo, de 12,5% para 25,9%. No mesmo período, a  população negra com 12 anos ou mais de estudo passa de inacreditáveis 3,3% para 12%, um aumento de quase 4 vezes, mas que não esconde que a população negra chega somente agora ao patamar de vinte anos atrás da população branca.

Ou seja, os negros no Brasil estão 20 anos atrasados em relação aos anos de estudo dos brancos. Este dado é fundamental para que se entenda a importância das cotas raciais.

Racismo no mercado de Trabalho?

Vamos pegar também os dados a respeito do mercado de trabalho, para entender se a diferença na educação se reflete também em outras áreas. Os dados sobre a educação foram retirados do IPEA:

7.8

Ano de estudo: Média mulheres negras

6.8

Ano de estudo: Média homens negros

8

Ano de estudo: Média homens brancos

17.4%

Mulheres negras desempregadas (até 11 anos de estudo)

9%

Homens negros desempregados (até 11 anos de estudo)

6.8%

Homens negros desempregados (até 11 anos de estudo)

Tempo de estudo entre brancos e negros

Negros e brancos não têm igualdade

O que dizem os dados sobre mercado de trabalho entre negros e brancos no Brasil

Se no caso do campo educacional, as mulheres encontram-se, em geral, em melhor posição que os homens, esta vantagem não se reflete no mercado de trabalho, onde a maior parte dos indicadores mostra uma hierarquia estanque, na qual o topo é ocupado pelos homens brancos e a base pelas mulheres negras.

Outro dado bastante relevante diz respeito às mulheres negras. Enquanto 10% das mulheres brancas fazem trabalho doméstico remunerado, o número de mulheres negras neste quesito é de 18%, quase o dobro. Este dado mostra a importância da PEC das domésticas, sobretudo para as mulheres negras.

A vida nas favelas: negros são maioria

Brancos e negros na questão da moradia

Distribuição de domicílios urbanos em favelas

 

Os dados do Brasil a respeito do saneamento básico também mostram uma enorme desigualdade entre brancos e negros.

Os dados mostram que as favelas, ambiente que em geral não conta com saneamento básico, que é considerado um direito fundamental pela UNICEF, são majoritariamente habitadas por negros e negras.

No total 33,8% dos lares nesses ambientes são chefiados por homens ou mulheres brancas, enquanto 66,2% são chefiados por homens ou mulheres negras.

66.2%

Moram em favelas: Negros

33.8

Moram em favelas: brancos

Sim, o racismo no Brasil existe

Depois de analisar os dados sociais mais básicos a respeito educação, trabalho, e habitação, não se pode afirmar que o racismo não exista no Brasil. Na educação os negros estão com 20 anos de atraso em relação aos brancos.

Na habitação, são quase o dobro morando em áreas urbanas sem a infraestrutura mínima para a sobrevivência, segundo os parâmetros oficiais. No mercado de trabalho são os mais precarizados e com maiores níveis de desemprego.

No Brasil, segundo dados do IPEA, 70% dos lares chefiados por negros e negras recebem Bolsa Família, enquanto apenas 30% dos lares chefiados por brancos recebem o mesmo benefício. Este dado mostra a distância entre as rendas de brancos e negros no Brasil.

Fonte: www.imprenca.com

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